Loprazol

Aqui continuo na minha vida. Um pouco cansada mas não desanimada. As análises continuam boas. A nível hormonal é que a resposta com o Zoladex não correu muito bem. Tive uma mestruação horrorosa de 3 semanas e as minhas hotmonas apresentavam valores muito elevados. Assim, a Dra introduziu uma nova droga na "dieta", o Loprazol. Este novo medicamento é associado ao zoladex para controlar as hormonas. Os efeitos secundários são os mesmo da menopausa. Até agora não senti nada :) Novidade: o herceptin deixa de ser administrado por via venosa. A partir da próxima "sessão" apenas será administrada uma injeção subcutanea, o que é excelente para as minhas veiazinhas que estão super massacradas. Esta semana a minha auto estima subiu muito, desbloquei uma parte de mim muito importante. Isso fez-me sentir novamente MULHER. Na realidade, sou o que sou, com mais mama ou menos mama, sou eu e a minha vida não parou em nenhum sentido. No geral sinto-me muito bem. Tenho abusado um pouco das noitadas, mas é verão :) Como costumo dizer... SOMA E SEGUE!

Zoladex

Estas duas semanas que se passaram foram semanas em cheio. Fiz ecografias abdominal, pélvica, mama, mamografia, RX torax e esqueleto, análises o sangue, consulta, herceptin e comecei o zoladex. Os exames estavam bons. Tenho o fígado um pouco afetado mas a médica diz que é normal, efeitos da quimio. Ainda não tive os resultados dos RX. Já devo estar a metade do tratamento do herceptim. Confesso que sinto-me cansada. Casa vez que tenho que tirar sangue ou fazer o tratamento fico muito ansiosa porque as minhas veias estão miseravelmente terríveis. Umas secaram, outras estão muito duras, pelo que é sempre difícil acertar à primeira e não ficar negra. No mês passado apareceu-me período. Tinha desaparecido com a quimio. Uma vez que tenho todos os receptores hormonais postivos não posso/devo ovular, pelo que tive indicação terapêutica para iniciar a castração química através de administração do Zoladex. O Zoladex é uma capsula administrada por uma injeção subcutânea de libertação prolongada. É administrada de 3 em 3 meses e os efeitos são os mesmos que na menopausa; dores d cabeça, afrontamentos, alteração de humor, aumento de volume corporal. No fundo é mesmo isso, uma menopausa induzida, precoce. E assim foi. No dia 27 injetaram-me na barriga o Zoladex. Fiquei muito negra, até assusta mas não doeu quase nada. Agora aguardo com alguma ansiedade os efeitos secundários. Claro que cada mulher reage de maneira diferente mas estou com algum receio, principalmente de engordar, porque tenho um problema: adoro comer :) Ando um pouco em baixo. Acho que tudo pelo que tenho passado está-me a pesar agora. Foi muita coisa em tão pouco tempo. Estou cansada. Penso muito na minha filha. Ando tranquila mas triste pois as pessoas que me acompanham não estão "bem" e acabo por ser o suporte das mesmas. Sinto que sendo eu o pilar tenho que ter forças para aguentar mas não está a ser fácil. Acabo por ficar "esquecida", mas eu também preciso de me sentir apoiada, amada...

Ano Novo ... vida nova????

Sempre disse que se um dia adoecesse seria com algo muito grave. Porque eu nunca ficava doente, raramente tinha febre, nunca faltava ao trabalho... De facto tinha razão. Quando fiz 36 anos sabia que seria uma ano muito exigente, que a minha vida iria mudar... para sempre. Que iria ficar presa a uma premonição... a algo que me iria acompanhar para sempre. Nunca a minha vida foi monótona, nunca estive "parada", inventava sempre algo para sair da rotina. Quando fiz 36 anos, sabia que aquele ano futuro seria tudo menos rotineiro mas desta vez não por minha vontade, foi algo que surgiu, que aconteceu, algo que teria que enfrentar, que teria que vencer. Assim foi... fiz 36 anos e tinha sido diagnosticada com cancro de mama maligno. estava desempregada e tinha entregue um projeto para criação do próprio emprego. Duas situações muito importantes que se contrariavam. Por um lado precisava de força e saúde para realizar o meu projeto,a minha vida, por outro precisava de descanso e tempo para tratar da minha saúde. Em Junho de 2013 tinha entregue o projeto que me daria uma profissão e dai dependia o meu futuro, ao mesmo tempo esperava o tratamento que me permitia viver. Em Agosto desse ano tive respostas. O meu projeto para abertura da minha loja tinha sido aprovado e a operação para mastectomia radical a mama direita tinha sido marcada para Setembro. Fui operada a 6 de Setembro. Recuperei, ganhei forças e abri atividade como empresária em nome individual. Em 17 de Outubro fiz a primeira sessão de quimioterapia. Nesse mesmo dia fiz os contratos de água e luz para a minha loja. Seguiram-se dias de trabalho intenso para construir o meu projeto. Trabalhei, trabalhei e trabalhei. 10 dias depois o cabelo começou a cair. Nesse dia reuni a família e rapei o cabelo. Segui para o IKEA para comprar o mobiliário para a loja. Dia 26 de Novembro já tinha feito a segunda sessão de quimio, inaugurei a loja. Trabalhei, trabalhei e trabalhei. Nunca faltei um dia. Fazia os tratamentos e ia trabalhar. Penso que foi a minha terapia. Tinha um projeto para concretizar, tinha que ir à luta. E fui. Seguiram-se sessões de fisioterapia 3 vezes por semana, tratava da família, trabalhava, tratava dos meus animais, resolvia problemas, nunca parei. Passou-se um inverno rigoroso. Não fui à cama nunca. Fiz radioterapia... 25 sessões. Entretanto descobri que o pai da minha filha, com quem vivia, andava interessado noutras mulheres. Não aguentei, foi uma traição cruel. Contava com o apoio dele e ele contava com o apoio de outras. Também resolvi. Resolvi que essa pessoa não me merecia. Separámo-nos. Custou. Confiava numa pessoa que me traiu. Então não interessa... sai! E saiu! Os meus 36 anos foi uma ano e peras, bolas!!!!! Hoje faço 37 anos... sim... 37 anos! eu... com 37 anos LOL Mas sim, 37 anos. Continuo a fazer os tratamentos, penso que a situação está controlada. Tenho uma filha linda que amo demais, tenho a minha família que me apoia incondicionalmente, tenho AMIGOS e AMIGAS... sim AMIGOS e AMIGAS. Amigo/a, para mim significa que está do nosso lado quando precisamos, que se aproximam quendo sente que é preciso, que não se esquece de quem somos... e eu tenho AMIGOS e AMIGAS, e isso deixa-me feliz :) , tenho os meus gatos, a minha cadela, tenho carros e casa, tenho um trabalho, a minha loja, o meu projeto, o meu futuro, também tenho as minhas preocupações, claro, sem isso a vida nem tinha graça, tenho VIDAAAAA!!!!!! E hoje faço 37 anos! Parabéns para mim ehehehe estou aqui e vou ficar! Quem manda sou eu ;)

E a VIDA continua.

A minha vida nunca foi monótona... há sempre novidades... umas boas, uma más, mas mexe!!!! E isso é bom! É sinal que estou VIVA! A minha casinha está como há muito não se encontrava. Calmaaaaaaaaaaaaaaaaa!! Tenho tudo à minha maneira, a minha filhota está bem, até porque para ela não é nenhuma novidade a mãe ter uma casa diferente da do pai, ajudamo-nos, divertimo-nos, amamo-nos. Tenho uma filha linda, uma companheira. E mais... os meus gatos, a minha cadela (que deixou de tremer com tanto medo que tinha daquela besta), tenho uma família, amigos, tenho uma vida... à minha maneira. Estou bem! Se me perguntarem se era isto que eu queria... não era. De maneira alguma. Tenho muita pena por ter sido destruída uma família, por ficar sem a minha enteada (adoro-te Tita), mas sinto-me tão tranquila. O meu negócio segue em frente, o que me mantem ocupadíssima. Já tenho 2 lojas, uma carrinha e muitas dores de cabeça ehehe Em relação à minha maminha... sinto saudades dela! Confesso que me sinto cansada do tratamento, ou dos tratamentos. Quase todos os dias conheço um caso novo, gente que vive, gente que sobrevive, gente que morre. A radioterapia correu bem. Continuo a fazer o herceptin, ou seja, de 3 em 3 semanas lá estou eu na sala dos "balões" a fazer o tratamento. Cada vez que lá vou encontro caras novas. Não tenho muitas ilusões, olho para aquele corredor como o corredor da morte. Por mais que digam que há mais de 90% de hipóteses de cura eu não acredito... é uma ilusão. Mais cedo ou mais tarde há uma reincidência. Por isso sou adepta de viver... viver um dia de cada vez, como se amanhã não fosse o último! Esta quinta feira passada fiz mais um tratamento. Custou muito. As minhas veias estão secas. Espetaram-me 3 ou 4 vezes, fiquei toda negra... chorei! Chorei pela primeira vez. Acho que começo a ficar cansada. Depois também confesso, não tinha ninguém comigo e precisava. Mas passou. Ainda estou negra mas já não choro. Este fim de semana fui com a Catarina passar a noite a casa de uns amigos. Foi muito bom. Sair um pouco daqui, respirar outros ares. Entre conversas "queixei-me da minha banhoca na barriga. Um dos amigos disse " quem gosta, gosta... com barriga, sem barriga... gosta!" Percebi que há pessoas que não damos a devida importância, que nunca demos, que "nunca vimos" mas que estão lá! Seja como for! Estão lá! Temos tanto à nossa volta, mas às vezes não damos a devida importância. Vale a pena viver mais devagar e estar mais atenta aos sinais.

Desilusão... a continuação

Já foi... já saiu de casa. Sem problemas, tal como se de um peso se livrasse. Hoje estou muito em baixo. Fico a pensar... vale a pena esforçarmo-nos para que as pessoas que nos são próximas nos sintam fortes? Foi isso que eu fiz. Tentei sempre manter-me forte, dinâmica, poderosa. Sim, era assim que me sentia... poderosa. Fazia os tratamentos e seguia em frente sem nunca me queixar. Acho que não o devia ter feito. Mesmo bem deveria demonstrar fragilidade, até porque eu estava mesmo frágil. O que aconteceu? As pessoas mais próximas deixaram de me dar suporte, esqueceram-se que eu estava a passar por um processo difícil e que me acompanhará para o resto da minha vida. Posso demonstrar que estou bem, mas não estou. Psicologicamente estava por um fio. O pai da minha filha já saiu de casa. Levou algumas coisas o que me fez ter que andar em trabalhos e reorganizar a casa. Tive que repor eletrodomésticos, redecorar o meu quarto, ter mais trabalho, esforço, tristeza. Sempre desejei ter uma família consistente. Queria dar à minha filha uma família a sério. Mas o que está mal, mal está e não dá para remediar. Grande parte do problema consistia na relação péssima entre a minha mãe e o pai da Cat. Desde sempre deveria ter optado por um. Mas não o fiz. Tentei sempre que se tolerassem. Não resultou. Já tinha perdido um, hoje perdi outra. Ou seja... não escolhi um, fiquei sem os dois. Sinto-me traída. Avancei com um projeto a contar com o apoio da família e hoje estou praticamente sozinha. Por vezes penso que o mal é meu. OK... posso ter os meus momentos? Até aceito que esteja com pouca paciência, que por vezes possa falar de uma forma agressiva. Mas não será compreensível? EU NÃO ESTOU BEM! Por fim, agora tenho a certeza. Aconteça o que acontecer... apenas posso contar comigo!

Desilusão

O relacionamento com o pai da minha filha nunca foi saudável, mas as coisas até corriam bem. Quando descobri que tinha cancro esta pessoa esteve a meu lado, disse que estaria comigo para o que desse e viesse. Acreditei! Em Janeiro descobri o nódulo, em Abril/Maio tive a certeza que era maligno, em Setembro fiquei sem uma mama, em Outubro comecei a quimio, fiquei sem cabelo e comecei a trabalhar para abrir a loja, em Novembro, já carequinha, inaugurei a minha loja, com a ajuda do pai da minha filha, da minha mãe e seu marido, da Isabel e da minha amiga Patty. Em Dezembro tomei cortizona e inchei um pouco. As Unhas dos pés e das mãos doiam-me e a comida sabia mal. Nunca fiquei em casa. Não baixei os braços e tentei sempre fazer o meu melhor. Entre todos os tratamentos, todos os dias trabalhei, tratava da janta, ia à rua com a cadela, tratava dos gatos, fazia... o que o tempo me permitia.. e o tempo permitia tudo menos parar! Em Janeiro soube que a minha amiga Patty também tem um carcinoma na mama direita, tal qual eu! Acho que fiquei pior do que quando foi comigo. No fundo iria reviver tudo pelo que passei na 3ª pessoa... estranho! Há 3 meses que não tenho mestruação. Sinceramente com tudo isto a vida sexual também se foi um pouco abaixo. Aqui até havia muito por dizer mas não o vou publicar :) PORRAAAAAAA uma mulher aguenta? Aguenta... porque assim tem que ser. A bem ou a mal, sempre tinha o conforto do lar. Quando as meninas estavam na cama sempre me estendia no sofá e recebia umas massagens nos pés, sempre falava um pouco, tinha a minha casa, o meu lar! Agora até isso me tiraram. São 22.30H e não consigo ir para casa. O pai da minha filha está de saida e não consigo olhar para a cara dele, ouvir a sua voz... nada... sinto-me duplamente traida. Traida quando descobri que andava a engatar gajas pelo face e traida por ser logo agora. Sim, pu-lo fora de casa... e ele vai. Custou... enxovalhou-me, ameaçou-me, chamou-me nomes quis que ficasse mal perante os vizinhos e sei lá mais quem. Mas isto faz-se????? Depois de tudo o que passei, de todo o esforço para termos uma vida normal, depois de tudo o que fiz para o ajudar? Ele que vá. Um dia serei feliz!

Última sessão de Radioterapia

E assim se passou um mês. Nada tranquilo, por sinal. Falando dos tratamentos. No dia 3 de Março fiz a simulação e preparação para os tratamentos. Não iniciei nesse próprio dia porque a máquina estava avariada. No dia seguinte lá estava eu. As sessões ficaram marcadas sempre por volta das 13.20H para que as pudesse fazer na hora do almoço e não inteferisse com o trabalho. No inicio acheio muito estranho... tudo muito mecanico, desde as técnicas até ao tratamento em si. A rotina era, fazer a inscrição, esperar pela primeira chamada. à primeira chamada despia-me da cintura para cima e aguadrava novamente. A segunda chamada teria que ficar na linha à entrada da sala de tratamentos. A 3ª chamada significava que podia entrar e deitar-me para ser incidida. A máquina é enorme. Faz uns sons estranhos e lança sobre mim não sei o quê!´Passados 7 minutos lá saio, besunto-me de biafine e vou à minha vida. Foi assim durante 25 sessões. Muito biafine, e muito "lá terá que ser". Mas sim, lá se terminou mais uma sessão. A pele está ótima, apenas um pouco vermelha mas não está ferida nem dorida. Agora continuo com os tratamentos do herceptin de 3 em 3 semanas e na próxima consulta (14 de Maio) a médica irá passar exames para saber se está tudo bem. Espero que sim e até já sinto um friozinho na barriga. Tenho feito muitos disparates, psicológicamente não estou bem, ando muito ansiosa. Mas não devido ao meu problema de saúde mas sim com a desilusão para com a pessoa que me estava mais próxima e que era o meu pilar. Viver é mesmo um coisa doida! E eu não tenho traquilidade. Se calhar a culpa até é minha, ligo-me às pessoas erradas!